Em tempos difíceis como os que passamos por causa da pandemia de Covid-19, o sentimento religioso é um importante componente na vida de milhões. Nestas horas de incerteza e medo, a busca por algo sólido, no qual as pessoas sempre confiaram, é extremamente significativo. Porém, com o fechamento dos templos, muitos cristãos parecem perdidos em meio a esta balbúrdia. E os cristãos, no entanto, deveriam ter a consciência de que Cristianismo é muito mais do que simplesmente frequentar a igreja no domingo.
Como professor de Literatura e Redação, estou passando pela
experiência da Educação a Distância de modo compulsório. E cheguei à conclusão
de que um aluno presencial pode não estar realmente presente: o corpo está em
sala de aula e a cabeça nas nuvens. Da mesma forma, uma espiritualidade cristã
sadia não depende necessariamente de cultos ou missas presenciais. E isso vem
comprovar que o Cristianismo, apesar de sua dimensão comunitária, é,
principalmente, a religião do coração.
E mais que isso, Cristianismo é espiritualidade. A
institucionalização do Cristianismo por Constantino, no Concílio de Niceia, em
325, teve aspectos positivos: deu à comunidade cristã um sendo de unidade, mas
ao mesmo tempo afastou o Cristianismo de sua simplicidade, valorizando
acentuadamente a noção de Igreja-monumento (institucional) e ofuscando a chama
da Igreja-movimento.
Nesta hora tão ruim para a humanidade inteira, cabe aos cristãos redescobrirem o senso de espiritualidade maior do que da religião. Uma religião é o conjunto de três elementos característicos: uma hierarquia organizada, uma doutrina definida e uma liturgia estabelecida. Estes elementos fazem com que se reconheça a prática de determinada religião, mas, no caso do Cristianismo, não são necessariamente aplicados.
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Quanto à doutrina, a Bíblia é farta de textos que mostram
que o Cristianismo não é uma doutrina, mas uma pessoa: Jesus de Nazaré. Como
crentes na ressurreição, acreditamos que Jesus está vivo. Como crentes na
Trindade, cremos que ele, como Deus, está em todo lugar, é Onipresente, não
confinado a um templo. Como pessoas que confiam nas Escrituras, cremos que ele
é o caminho, a verdade e a vida. Afirmamos ainda que ele está conosco até a
consumação dos séculos, que ele acalma as tempestades, que é capaz de curar
enfermos e até de ressuscitar os mortos! A vida que ele concede ao que crê não
pode estar confinada no templo, porque, pelo Espírito Santo que habita em nós,
podemos ter comunhão com ele em qualquer lugar e a qualquer momento.
Não estou afirmando que a vida comunitária da Igreja não seja
importante e muito significativa. Tenho muita saudade e sinto muita falta de
cantar hinos, ouvir os sermões, privar a companhia dos irmãos. Contudo, não
precisamos de um templo para adorar a Deus, que deve ser adorado não em um
lugar específico, mas em espírito e em verdade, segundo o próprio Jesus. Assim
como uma amizade verdadeira subsiste mesmo que amigos fiquem muito tempo sem se
encontrarem (já dizia o poeta: “amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete
chaves, dentro do coração”), nossa fé em Cristo continua existindo mesmo sem
que haja reuniões regulares e presenciais no local de culto.
Portanto, a pandemia e o distanciamento social não são impeditivos para vivenciarmos a nossa fé, porque ela é mais que religião: é espiritualidade, é vida em abundância! E espiritualidade existe quando há um coração sincero que busca conexão com o Eterno.
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