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sábado, 24 de abril de 2021

MEU BOM PASTOR É CRISTO, COM ELE ANDAREI

Atos 4.5-12; Salmo 23; I João 3.16-24; João 10.11-18

Oração do dia: Ó Deus, cujo filho Jesus é o Bom Pastor do teu povo, concede que, quando ouvirmos sua voz, reconheçamos aquele nos chama pelo nome e o sigamos para onde nos conduz; o qual vive e reina contigo e com o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.


A imagem do Pastor é, sem dúvidas, uma das mais recorrentes nas Escrituras. Diversos são os textos, com as mais diferentes ênfases, desta metáfora do Deus amoroso. Para nós, um povo de cultura ocidental e urbana, entender o significado desta expressão, “O Senhor é meu Pastor”, parece soar distante e exótico. No entanto, se entendemos o porquê Deus é assim reconhecido, certamente que entenderemos e guardaremos em nossos corações as verdades que encerram.

O pastor é aquele que guarda. As ovelhas são animais que parecem ter “déficit de atenção”. Algumas vezes são dispersivas e parecem não prestar atenção em nada. Noutras, estão focadas no que estão fazendo que se esquecem do que há ao redor. E nesse instante, lobos podem atacar o rebanho e massacrá-lo. Então, a figura do Pastor é que aparece para livrar o rebanho de todo perigo externo, mandando fora o inimigo feroz. E Jesus, o Bom Pastor, é aquele que dá a sua vida pelas suas ovelhas. Para livrá-las das astúcias do Inimigo de nossas almas e do mal que nos rodeia neste mundo tenebroso, Cristo está vigilante para nos defender. Diferente do mercenário, que vai embora diante do primeiro perigo, ele está firme em seu posto para cuidar de seu rebanho, comprado com um preço muito alto: sua própria vida, na Cruz.

O pastor é aquele que cuida. Não podemos nos esquecer que uma ovelha é uma “bola de lã” ambulante. Cair na água e não ter socorro imediato seria a morte certa dela. Por isso o salmista Davi nos lembra neste belíssimo e amado texto: “guia-me, mansamente, às águas tranquilas, refrigera a minha alma”. O cuidado do Pastor é essencial para que a ovelha sobreviva. Do mesmo modo, Jesus cuida de nós, de nossas necessidades, antes mesmo que a palavra nos venha aos lábios pedindo socorro. Ele quer que bebamos águas limpas, que verdadeiramente matem a nossa sede. Por isso ele tem palavras certas para nos acalentar. E mais que isso, ele mesmo é a água viva a qual, quem beber, nunca mais terá sede. Que maravilhoso Salvador temos!

O Pastor é aquele que guia. Também precisamos pensar em outro aspecto. Se a ovelha estiver pastando e um estranho chamá-la pelo nome, ela continua pastando tranquilamente. Mas, se ela ouve a voz do pastor, imediatamente ela para, levanta a cabeça, o procura e vai em sua direção. As ovelhas de Cristo quando ouvem a sua voz, seja na leitura das Escrituras, seja pelo Espírito Santo que nelas habita, devem também ouvir sua voz. Quando Lutero foi questionado na Dieta de Worms sobre seus ensinos e foi exigido que ele renunciasse aos seus escritos, sem hesitação, respondeu: “A menos que vocês provem para mim pela Escritura e pela razão que eu estou enganado, eu não posso e não me retratarei. Minha consciência é cativa à Palavra de Deus. Ir contra a minha consciência não é correto nem seguro. Aqui permaneço eu. Não há nada mais que eu possa fazer. Que Deus me ajude. Amém.”

Hoje, tantas vozes se levantam contra o Senhor e contra seus ensinos. Mas nós, como ovelhas, devemos seguir a voz do nosso Mestre e Pastor.

Pastor é aquele que agrega. Jesus disse também que possuía ovelhas que não eram do seu aprisco. Primeiramente, ele se referia aos não judeus que ouviriam a sua mensagem. Hoje, ele se refere aos marginalizados e oprimidos deste mundo, a quem a Igreja deve levar a voz libertadora do Bom pastor. Pessoas feridas por preconceitos, valores antiquados, situações de violência e morte que precisam de libertação. A voz do Pastor se fazer ouvir por nós, cristãos, onde quer que estejamos: no trabalho, na escola e no lar. Pessoas que estão abandonadas e que precisam de ouvir sobre este bom pastor: vítimas de racismo, machismo e homofobia, povos indígenas e refugiados de todas as nações, crianças abandonadas e idosos, deficientes físicos e acima de tudo, os pobres e famintos de comida, de um teto e de afeto.

Portanto, a figura do Pastor, mesmo em meio a esta sociedade urbana e corrupta continua sendo a mais fiel metáfora do Salvador do Mundo! O Bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas. Recebamos, com alegria, essa grande prova de amor e graça.

sábado, 17 de abril de 2021

Testemunhas da ressurreição

 

3º Domingo da Páscoa

Leia: Atos 3:12-19; Salmo 4; I João 3:1-7; Lucas 24:36-48

Quadro do pintor francês Nicolas Poussin (1655) mostra Pedro e João curando homem coxo. 


Ainda estamos sob as festividades pascais. A ressurreição e o espanto promovido por ela causaram e ainda hoje causam dúvidas, incertezas e incredulidade. É difícil acreditar que alguém se levantou dos mortos, caminhou, conviveu com os discípulos, comeu com eles. No entanto, eis o ponto central de toda a Fé Cristã: Jesus está vivo e presente no meio da comunidade dos fiéis.

Esta vida de Jesus é comunicada aos homens. Pedro diz em Atos 3: 16: “Pela fé em o nome de Jesus, é que esse mesmo nome fortaleceu a este homem que agora vedes e reconheceis; sim, a fé que vem por meio de Jesus deu a este saúde perfeita na presença de todos vós”. E isso não apenas em relação ao físico. Feridas emocionais, psicológicas, relacionais podem ser curadas e restauradas pela fé no Filho de Deus, pois é dele que, profeticamente, fala no Salmo 4: “Em paz me deito e logo pego no sono.” Aquele que acalmou as tempestades no mar da Galileia é o mesmo que acalma a tempestade da alma ferida e cansada.

A ressurreição de Jesus, portanto, é uma fonte de vida aos homens e mulheres do mundo inteiro. Mas como acreditar nela, se não a vimos? Passados 2000 anos deste este fato, como acreditar, ainda hoje, que ele foi real?

Nos meios jurídicos, costuma-se chamar a testemunha de “a prostituta das provas”. Embora aceita num julgamento, ela deve ser uma prova coletiva, ou seja, deve haver mais de uma pessoa, mais de uma testemunha dos fatos. Caso isso não ocorra, a prova testemunhal não será aceita pelo juiz, pois será a sua palavra contra a palavra do réu. O Evangelho de hoje nos chama a crer de forma cabal no testemunho dos apóstolos. Eles viram, coletivamente, Jesus se apresentar a eles e dizer: toquem minhas feridas, são reais, sou eu mesmo. Viram Jesus comer e conversar com eles.

Além disso, a sua ressurreição também é a prova de que sua mensagem é verdadeira. Ele os relembra de que havia dito que morreria daquela morte tão cruel por nossos pecados e que se levantaria da morte. Ele afirma aos discípulos: vocês são testemunhas dessas coisas. Ou seja, poderiam de forma eficaz e verdadeira dizerem com clareza tudo o que viram e ouviram do Mestre.

Ademais, podemos ainda ver o testemunho das Escrituras. Jesus recorre aos escritos do Antigo Testamento, da Lei, dos Salmos e dos Profetas, que falaram sobre Ele centenas de anos antes de tais fatos ocorrerem. Dessa forma nós, cristãos, também pelo Espírito Santo que nos foi dado devemos crer, pois a Palavra de Deus nos confirma, pela fé, todas essas coisas. Por mais que pareça absurdo aos olhos da razão, crer na Bíblia é dever de todo cristão e cristã. Ela é a revelação escrita daquele que é, por si mesmo, o Verbo de Deus encarnado.

E essa vida concedida por Cristo deve ser reconhecida por nós no testemunho vivo de tantos homens e mulheres que se tornaram discípulos nos tempos pós-apostólicos, os mártires, os pais da Igreja e mesmo homens e mulheres com os quais convivemos em nossas comunidades. Quantos, como aquele coxo na porta do Templo, que foram levantados e levantadas de uma vida de derrota, pecado e maldição para uma vida abundante! Pessoas que eram escravas de vícios, cheias de preconceitos ou vítima deles, pessoas perversas, sem religião ou mesmo sem o menor escrúpulo humanitário, ou religiosos frios e formais e que se transformaram em heróis da fé...Paulo, Agostinho, Francisco de Assis, João Wesley, Benedito Quintanilha, conhecidos e desconhecidos que encontraram no ressuscitado uma nova razão para viver como filhos e filhas de Deus.

Da mesma maneira, somos hoje convidados a ser testemunhas dessa vida que Cristo concede nas mais variadas situações de morte: feminicídio, racismo, homofobia, desrespeito aos direitos humanos, desprezo pela causa indígena, aquecimento global...e em situações pequenas também, do dia a dia, sendo um ombro potente para um amigo ou amiga que está triste, ferido, sem esperança. Como Pedro disse para aquele coxo que foi curado, digamos: olha para nós!

Muitas vezes pedimos que Deus nos dê respostas para as situações da vida, mas pode ser que a resposta sejamos nós mesmos. Podemos ser a única Bíblia que as pessoas podem ler. Por isso, devemos ser, num mundo morto, testemunhas de sua Ressurreição.

 

Para encerrar, lembro-me de um hino antigo, do qual sempre gostei:

 

A minha alma estava longe do caminho do céu

Eu era cego e desprezível pecador

Mas Jesus já transformou minhas trevas em luz

Quando ele estendeu a sua mão para mim

 

Refrão: Quando Jesus estendeu a sua mão

Quando Ele estendeu a sua mão para mim

Eu era pobre, perdido sem Deus, sem Jesus

Quando Ele estendeu a sua mão para mim

 

Agora me regozijo desde que O aceitei

E na tempestade eu posso sossegar

Pois com Ele estou liberto do perigo e do mal

Desde que estendeu a sua mão para mim.

 

sábado, 10 de abril de 2021

Sejamos como Tomé!

 Segundo Domingo da Páscoa – Ano B

Atos 4.32-35; Salmo 133; I João 1.1-2.2; João 20.19-31

 

A Dúvida de Tomé, Caravaggio, 1603

Sejamos como Tomé!

Devemos pensar o Tempo da Páscoa como um tempo de Unidade. Unidade não é o mesmo que uniformidade. Não somos iguais. E essas diferenças de pensamentos e ações não são impeditivo para que vivamos uma fraternidade plena e harmoniosa. Nossas diferenças são uma verdadeira riqueza. Nossa unidade se dá, em primeira instância, pela ressurreição do Senhor, de onde provém toda a nossa fé. Somos irmãos porque a ressurreição do Senhor nos assegura a filiação divina através do seu Filho Unigênito. Por isso o salmista nos lembra: Ó! Que bom e agradável é que os irmãos vivam em união (Salmo 133:1).

Essa unidade se dá porque fomos perdoados por Deus em Jesus Cristo. Ao confessarmos os nossos pecados (1 Jo 1:8,9) assumimos nossa fragilidade humana. Não somos “super-heróis”, mas meramente humanos, profundamente humanos. Por isso devemos andar seguindo o exemplo de Cristo, olhando fixamente para Ele, apenas: perdoando uns aos outros, amando incondicionalmente, servindo com alegria de coração como fazia a Igreja das primeiras comunidades.

Somos humanos. Nossa humanidade muitas vezes nos impede de crer verdadeiramente. Não temos a capacidade natural de estar em dois lugares ao mesmo tempo, nem temos controle sobre outro tempo que não o presente: o passado ficou para trás, o futuro, desconhecemos. Tal qual Tomé, não cremos no testemunho de outros, temos que ver com nossos próprios olhos. Cristo saudou seus discípulos com a paz, a paz verdadeira que só Ele pode dar e que excede toda compreensão humana. Mas, muitas vezes, persistimos no conflito, na discordância e no nosso egoísmo.

Neste Segundo Domingo da Páscoa, pensemos, reflitamos sobre a nossa atitude como cristãos e cristãs:

a) Estamos abertos ao diálogo fraterno, aberto? Estamos abertos aos outros? Nosso coração possui um amor tal que nos permite amar as pessoas como elas são ou estamos esperando que sejam como queremos?

Precisamos buscar o espírito “ecumênico” e ver o outro não como inimigo, simplesmente porque pensa diferente de nós. Precisamos “pleitear a causa dos órfãos e viúvas” de nosso tempo, lutando contra o racismo, a misoginia, a homofobia, entre outras causas humanitárias, sempre nos orientando na direção dos outros. Como alguém já disse, devemos construir pontes, não muros. O texto de At 4:31-35 nos mostra que em todos havia um só coração e uma só alma, mas não diz que eles sempre pensavam do mesmo modo; ninguém se considerava melhor dos que os outros; ninguém passava por necessidades (e hoje, podemos ler isso não apenas como necessidades físicas, como comer, beber ou vestir, mas também necessidades emocionais, psicológicas, relacionais).

b) Queremos nós agir no Espírito de Cristo, perdoando aos outros, entendendo suas fraquezas? Há um hino de que gosto muito que diz “Olhar com simpatia os erros de um irmão”. Isso significa que “apontar o dedo” não é a mais correta atitude cristã. Nossas diferenças doutrinárias ou de interpretação da Bíblia ou do Contexto histórico em que estamos inseridos não pode ser motivo para desprezar o outro, mas para amar não por causa de, mas apesar de. “Se dissermos que não temos pecado enganamo-nos a nós mesmos e a sua palavra não está em nós” (I Jo 1:10). Reconheçamos nossas fraquezas, assumamos a nossa culpa e nos transformemos ao olharmos para o Ressuscitado.

c) Cristo, como Deus, sabia que a incredulidade de Tomé seria exposta. E Jesus não o julgou. Mas, com amor e paciência, demonstrou sua ressureição, abriu-lhe os olhos e ele pôde confessar: Meu Senhor e meu Deus! Pedro negara Jesus por três vezes e fora perdoado. Todos os discípulos, com exceção de sua mãe, Maria, de Maria Madalena e de João, o abandonaram na crucificação e foram perdoados. Todos ficaram com medo dos judeus e dos romanos em serem identificados como seguidores do Nazareno e foram perdoados. Portanto, suas convicções e sua fé foram abaladas com aqueles eventos da Paixão do Senhor. Mas nós sempre só lembramos de Tomé.

Tomé não é melhor ou pior que nenhum deles, porém, foi o mais sincero. Ao expor a sua incredulidade foi levado à fé, não por uma doutrina ou por mera aceitação da palavra dos outros. Ele mesmo experimentou o encontro com o Ressuscitado e isso o levou à fé genuína. Sua experiência marcou profundamente a sua vida e foi registrada a fim de que nós, pecadores imperfeitos, também tenhamos a mesma atitude.

Sejamos como Tomé!

 


 

sexta-feira, 9 de abril de 2021

Religião ou Espiritualidade?

Em tempos difíceis como os que passamos por causa da pandemia de Covid-19, o sentimento religioso é um importante componente na vida de milhões. Nestas horas de incerteza e medo, a busca por algo sólido, no qual as pessoas sempre confiaram, é extremamente significativo. Porém, com o fechamento dos templos, muitos cristãos parecem perdidos em meio a esta balbúrdia. E os cristãos, no entanto, deveriam ter a consciência de que Cristianismo é muito mais do que simplesmente frequentar a igreja no domingo.

Como professor de Literatura e Redação, estou passando pela experiência da Educação a Distância de modo compulsório. E cheguei à conclusão de que um aluno presencial pode não estar realmente presente: o corpo está em sala de aula e a cabeça nas nuvens. Da mesma forma, uma espiritualidade cristã sadia não depende necessariamente de cultos ou missas presenciais. E isso vem comprovar que o Cristianismo, apesar de sua dimensão comunitária, é, principalmente, a religião do coração.

E mais que isso, Cristianismo é espiritualidade. A institucionalização do Cristianismo por Constantino, no Concílio de Niceia, em 325, teve aspectos positivos: deu à comunidade cristã um sendo de unidade, mas ao mesmo tempo afastou o Cristianismo de sua simplicidade, valorizando acentuadamente a noção de Igreja-monumento (institucional) e ofuscando a chama da Igreja-movimento.

Nesta hora tão ruim para a humanidade inteira, cabe aos cristãos redescobrirem o senso de espiritualidade maior do que da religião. Uma religião é o conjunto de três elementos característicos: uma hierarquia organizada, uma doutrina definida e uma liturgia estabelecida. Estes elementos fazem com que se reconheça a prática de determinada religião, mas, no caso do Cristianismo, não são necessariamente aplicados. 



 Lembro-me aqui de uma veste tradicional dos bispos anglicanos, a Chamarra. A Chamarra é um colete (opa) vermelho ou preto, talar e sem mangas, aberto na frente, usado sobre o Roquete. A Chamarra era, originalmente, uma jaqueta de equitação ao ar livre e suas pregas traseiras facilitavam o montar e desmontar do cavalo. Ela simboliza o papel do Bispo como apóstolo, missionário, aquele que vive em movimento, viajando, pregando ao mundo as boas novas de salvação de Jesus Cristo. Ela relembra o fato de que o bispo não é alguém que deva ficar preso numa Catedral ou num escritório diocesano, mas um missionário que não tem onde reclinar a cabeça como o seu Mestre, Jesus de Nazaré. Ele não tem um lugar definido, fixo, mas é o que espalha as boas novas e cuida de seu rebanho disperso como o Bom Pastor que busca a ovelha perdida.

 

 A Chamarra é o símbolo do clérigo nesta pandemia. Figura importante na pregação da Palavra e na Administração dos Sacramentos, ele cuida de um rebanho disperso e usa ferramentas modernas, como a internet, para desenvolver seu trabalho tão antigo. Aqui não é mera hierarquia eclesiástica, mas função e serviço ao Povo de Deus.

Quanto à doutrina, a Bíblia é farta de textos que mostram que o Cristianismo não é uma doutrina, mas uma pessoa: Jesus de Nazaré. Como crentes na ressurreição, acreditamos que Jesus está vivo. Como crentes na Trindade, cremos que ele, como Deus, está em todo lugar, é Onipresente, não confinado a um templo. Como pessoas que confiam nas Escrituras, cremos que ele é o caminho, a verdade e a vida. Afirmamos ainda que ele está conosco até a consumação dos séculos, que ele acalma as tempestades, que é capaz de curar enfermos e até de ressuscitar os mortos! A vida que ele concede ao que crê não pode estar confinada no templo, porque, pelo Espírito Santo que habita em nós, podemos ter comunhão com ele em qualquer lugar e a qualquer momento.

Não estou afirmando que a vida comunitária da Igreja não seja importante e muito significativa. Tenho muita saudade e sinto muita falta de cantar hinos, ouvir os sermões, privar a companhia dos irmãos. Contudo, não precisamos de um templo para adorar a Deus, que deve ser adorado não em um lugar específico, mas em espírito e em verdade, segundo o próprio Jesus. Assim como uma amizade verdadeira subsiste mesmo que amigos fiquem muito tempo sem se encontrarem (já dizia o poeta: “amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves, dentro do coração”), nossa fé em Cristo continua existindo mesmo sem que haja reuniões regulares e presenciais no local de culto.

Portanto, a pandemia e o distanciamento social não são impeditivos para vivenciarmos a nossa fé, porque ela é mais que religião: é espiritualidade, é vida em abundância! E espiritualidade existe quando há um coração sincero que busca conexão com o Eterno.

quarta-feira, 7 de abril de 2021

Igrejas abertas na pandemia de Covid-19?

 Direito é algo que posso exercer ou não. Dever é algo que preciso exercer, mesmo contra a minha vontade.

Igrejas fechadas, neste momento de pandemia, é um dever cristão, prova de amor ao próximo, e algo absolutamente racional.

Os cristãos precisam lembrar de uma passagem do evangelho que responde a quaisquer questionamentos dessa natureza. Jesus disse:

 "Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar.

Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. 

Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus. 

Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. 

Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade. João 4:20-24

Portanto, adoração não depende de um lugar, o templo, mas de uma atitude, em espírito e verdade.

Por isso, apoio a ideia de igrejas fechadas durante as fases mais restritivas da pandemia.

Use as redes sociais, o Google Meet, o Zoom etc. Fique em casa e dê um bom testemunho. Adore a Deus no seu coração, na sua casa.

Abraço fraterno a todos!

sábado, 3 de abril de 2021

Mensagem de Páscoa 2021


“Ora, se é corrente pregar-se que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como, pois, afirmam alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos?

E, se não há ressurreição de mortos, então, Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã, a vossa fé; e somos tidos por falsas testemunhas de Deus, porque temos asseverado contra Deus que ele ressuscitou a Cristo, ao qual ele não ressuscitou, se é certo que os mortos não ressuscitam. (1 Coríntios 15:12-15)

 Feliz Páscoa!

A Páscoa é a maior das festividades cristãs, pois nela se relembra o cerne da fé – a ressurreição de Jesus Cristo. Esse fato é crucial para os cristãos e cristãs, pois Jesus de Nazaré teve uma morte sacrificial e expiatória pelos pecados de toda a humanidade, e uma morte substitutiva, pois Ele tomou o lugar de cada pecador, recebendo em si mesmo a condenação de cada um de nós.

 A primeira realidade, então, é esta: Cristo está vivo! A morte da sexta-feira é vencida pela vida no Domingo. Centenas de milhares de mártires, inclusive os apóstolos e a primeira geração de cristãos – os que conheceram e conviveram com Jesus, antes e depois de sua ressurreição – deram seu testemunho e suas vidas por acreditarem fielmente nesta doutrina. Não existe Cristianismo sem ressurreição. Negá-la, seria o equivalente a negar a relação entre vida e ar em nosso planeta.

 Muito já se questionou a realidade da Ressurreição de Jesus das mais variadas formas:

(1) Dizendo que os apóstolos roubaram o corpo de Jesus. Lembremos que o corpo de Jesus, após a crucificação, foi colocado em um túmulo cedido por José de Arimateia, e que este túmulo, selado com uma grande rocha, era guardado por um significativo aparato militar, pois soldados ficaram de vigia na porta do mesmo. Ora, como simples pescadores iam derrotar em uma luta corporal os preparados soldados romanos e roubar o corpo do Mestre? Racionalmente é impossível.

 (2) Outros dizem que Jesus, de fato não morreu, mas sofrera um desmaio após sua paixão e crucificação. Bem, pensemos: como alguém que fora chicoteado, coroado de espinhos, condenado a carregar o madeiro, cruficificado, tendo seu coração furado por uma lança, que perdera com isso litros de sangue, portanto fisicamente e altamente debilitado, conseguisse, no terceiro dia, levantar-se bem disposto, ter forças para, sozinho, rolar a pedra do sepulcro e ainda lutar com os soldados que guardavam o seu túmulo? Também impossível!

 (3) Outros ainda afirmam que simplesmente Cristo não ressuscitou e que isso não passa de uma lenda cristã do primeiro século. Como explicar, a partir disso, a morte dos mártires, como citei, por uma mentira, algo que não os motivasse de verdade? Como acreditar que essas centenas de pessoas morreram pela fé em uma mentira qualquer?

 Essas e outras tentativas de desmerecer essa tão importante e cara doutrina, foram espalhadas pelo mundo antigo e chegam ainda até os dias atuais. No entanto, a Ressurreição do Senhor é a mais cabal prova de que sua vida, mensagem e missão eram vindas de Deus. Não temos o túmulo de Jesus e seus ossos guardados em qualquer santuário em Jerusalém. Cristo está vivo, verdadeiramente!

 No entanto, qual é a mensagem da Ressurreição para os dias de hoje?

 (1) A vida sempre vence a morte: estamos em tempos de Pandemia de Covid-19, uma das maiores catástrofes sanitárias da História da humanidade. Milhões já morreram pelo mundo, no Brasil não se veem soluções rápidas para essa doença, famílias choram seus mortos com tristeza, a política sobrepuja as ações efetivas, as coisas são mais importantes do que as pessoas...No entanto, a esperança nutre os corações dos que creem e não podemos perder isso de vista: a ressurreição de Cristo é a garantia de nossa própria ressurreição, quando cremos e nascemos de novo, e no futuro, quando também nós nos levantaremos da sepultura. Ressurreição é esperança de dias melhores, de cura para males que parecem insolúveis, de reencontros entre as pessoas.

 (2) A justiça se levanta contra a injustiça: Jesus fora morto num julgamento viciado, com testemunhas falsas, num tribunal sem processo (o que não condiz com o Direito Romano), por juízes parciais (o Sinédrio era parte envolvida), com pessoas que tinham competência para julgá-lo, mas renunciaram a isso (Pôncio Pilatos lavou as mãos em sinal de que não queria se comprometer), a pedido a uma multidão movida por forte emoção e conduzida pelos inimigos de Jesus. Tudo errado, do ponto de vista jurídico. Todavia, a justiça verdadeira se estabeleceu quando ele levantou-se dos mortos e mostrou que ele era uma vítima inocente. Portanto, não deixemos de lutar por aqueles que são vítimas de desrespeito aos direitos humanos, julgados pela sua raça ou etnia, condenados à submissão por questões de gênero ou sentenciados por causa da homofobia e da transfobia. Negros, índios, mulheres, LGBTQIA+, índios, refugiados, crianças, idosos, deficientes e outros pobres de Deus mortos todos os dias, condenados todos os dias como vítimas de uma sociedade hipócrita como os fariseus e omissa como Pilatos. A ressurreição de Cristo nos dá esperança de dias melhores e de que a luta dessas pessoas deve ser nutrida de esperança em dias melhores, com justiça e igualdade para todos, independente de sua condição.

 (3) Deus está no comando: embora aparentemente a sexta-feira fosse o fim de tudo, o Domingo veio provar que Deus está à frente de um plano de amor, de transformação e de doação de seu amor pela humanidade. Ele deu seu próprio Filho, a fim de que por sua morte e ressurreição um novo mundo surgisse. A semente foi lançada à terra, morreu e germinou, garantindo a vitória final do Amor e da Misericórdia. Nada pode impedir a vinda do Reino de Deus a cada pessoa e a todos, pois Cristo mesmo é a garantia da vida em abundância.

 Nestes tempos sombrios, portanto, a Ressurreição de Jesus deve ser lembrada como o atestado de que, apesar de tudo e todos, nada é maior que o poder de Deus, o transformador poder de Deus, dado à humanidade. Esse dom, através de seu Filho sacrificado, nos reconcilia com Ele, nos faz filhos também, filhos da Luz. Por isso, cabe a cada cristão verdadeiro ser portador dessa mensagem de vida, de esperança e de salvação. Isso é, sim, viver uma Feliz Páscoa!

 Aleluia! Cristo Ressuscitou! Verdadeiramente, Cristo está vivo!

Mensagem Pastoral de Pentecostes - 2025

Caríssimos irmãos e irmãs em Cristo! Domingo, 08 de junho, é dia de Pentecostes. Aniversário da Igreja de Jesus Cristo. Celebramos este dia ...