Blog do Professor e Teólogo Episcopal (Anglicano) Dom Virgilio Cezar H. P. Torres - Bispo Presidente da Igreja Episcopal Protestante
domingo, 16 de junho de 2024
A grandeza de ser pequeno
quarta-feira, 12 de junho de 2024
O Cristianismo Celta
Esta semana me detive envolto em várias leituras diferentes. Li um pouco de História dos Concílios Ecumênicos, principalmente os da Cristandade indivisa (Niceia, Constantinopla, Éfeso e Calcedônia); também li um pouco sobre São Paulo e seu trabalho como evangelizador; mas o que mais me chamou a atenção foi ler e aprender um pouco sobre o Cristianismo Celta, uma vertente do Cristianismo que existiu até a alta Idade Média, na Irlanda, Escócia, Gales e algumas partes da Inglaterra. Um Cristianismo diferente, significativo, que influenciou o monasticismo europeu (centro e norte da Europa) através do trabalho de seus" monges marinheiros". Uma Igreja que deu origem ao Anglicanismo e que se constitui em uma das mais importantes contribuições à Cristandade Ocidental.
Segundo uma antiga tradição, o Cristianismo chegou às Ilhas Britânicas através do trabalho evangelizador de José de Arimateia, o mesmo discípulo que cedeu o túmulo para Jesus ser sepultado e onde ficou por apenas três dias. No século V, São Patrício foi uma das muitas pessoas que trouxeram a fé cristã para a Irlanda. Porque a fé cristã floresceu dentro da cultura celta já existente, e porque as terras celtas estavam tão longe de Roma, o cristianismo celta tem um sabor e uma ênfase únicos. O que chamamos de “Cristianismo Céltico” floresceu entre os séculos V e IX em todas as Ilhas Britânicas, mas concentrou-se particularmente no oeste e no norte: Cornualha, País de Gales, Escócia e Irlanda (em verde, no mapa). Também havia celtas na Bretanha, na França. Hoje estas terras acolhem frequentemente festivais celtas, tanto cristãos como pré-cristãos. Nesta postagem do blog, examinaremos especificamente o sabor único do Cristianismo como acreditamos que foi praticado nas terras celtas de meados ao final do primeiro milênio. Os cristãos celtas tinham um senso vívido do sobrenatural e cultivavam lugares e épocas do ano em que o mundo sobrenatural parecia mais próximo do nosso mundo. Os celtas adoravam peregrinações a lugares onde Deus se sentia próximo. Eles se sentiam confortáveis em experimentar mistério e admiração diante de um Deus transcendente. Eles amavam a Trindade: três em um, um em três. Esses são alguns dos temas que veremos nas postagens do blog nas próximas semanas.
Distintivos da Espiritualidade Cristã Celta
1. Central para a espiritualidade celta é a encarnação e um intenso senso da presença de Deus. O Celta era uma pessoa intoxicada por Deus, cuja vida era abraçada por todos os lados pelo Ser divino.
a) A presença de Cristo estava quase fisicamente entrelaçada em suas vidas
b) Deus (Jesus) foi tratado com admiração, reverência e temor, mas foi essencialmente visto como uma figura humana intimamente envolvida em toda a criação e envolvida numa relação dinâmica com ela.
c) Cristo é o nosso “companheiro de caminhada”. Ele é nosso guia, nosso protetor, e oramos com ele e podemos confiar nele sempre onde quer que vamos.
d) A Trindade faz parte da família eterna de Deus à qual também pertencemos. Cada unidade familiar, clã ou comunidade era vista como um ícone da Trindade.
e) Toda a criação responde à presença criativa e ao amor sustentador de Deus. Deus não apenas envolve e protege a criação, mas também a anima, ativa e inspira.
2. Uma crença na fina espessura do véu entre este mundo e o próximo . O céu e a terra estão interligados e interagindo.
a) Os cristãos celtas acreditavam que a “nuvem de testemunhas” está sempre conosco. Eles oraram conscientemente como membros da grande companhia de exércitos – as pessoas da Trindade, anjos e arcanjos, bem como todos os que vieram antes de nós, foram todos vistos como companheiros próximos na sua jornada.
b) Através desta mesma multidão de testemunhas, Deus os protegeu das forças do mal e dos inimigos.
3. Importância das pequenas coisas – nenhuma tarefa é trivial demais para ser santificada pela oração e bênção
a) Todo trabalho é sagrado – Mesmo as pequenas tarefas mundanas, como lavar pratos, ordenhar a vaca e semear, têm um significado sagrado.
b) Isto tem paralelo na sua identificação com as pessoas comuns, os marginalizados e os oprimidos. Todas as pessoas representavam a Deus e podiam ser visitantes celestiais disfarçados.
c) Oferecer hospitalidade abriu uma porta para o reino de Deus e acolheu Jesus no meio deles. Foi uma importante expressão de amor tanto para com Deus como para com o próximo.
4. Segundo a teologia celta, o corpo é essencialmente bom. A ação pecaminosa era vista como errada, mas o corpo é uma dádiva em todas as suas capacidades.
5. Um forte sentimento de pecado e a presença de forças do mal no mundo resultaram num forte reconhecimento da necessidade de penitência, que muitas vezes levou a vidas austeramente ascéticas.
A espiritualidade celta afirma que o pecado deforma a pessoa que somos chamados a ser em Cristo. Ela escraviza e o objetivo, portanto, é libertar-se da escravidão. Alguns santos celtas tornaram-se peregrinos perpétuos ou viveram como eremitas para evitar os confortos e as tentações de uma existência estável na qual o mal poderia florescer (martírio branco).
6. Toda a vida flui em um ritmo de fluxo e refluxo refletido no mundo natural. Isto se reflete no ritmo monástico que fluía entre a oração e o estudo, o trabalho e o descanso, a comunidade e a solidão.
7. Os cristãos celtas adaptaram-se bem à cultura em que operavam. Às vezes são acusados de sincretismo por causa do uso de símbolos pré-cristãos que transformaram em símbolos de fé.
domingo, 2 de junho de 2024
Devocional - 02 de junho de 2024
Olá, meu povo! Despois de um grande tempo sem postar nada, estou de volta aqui e quero, pelo menos, postar um texto por semana, no mínimo! kkk
Segue um devocional inspirado nas leituras da Liturgia de hoje, Segundo Domingo depois de Pentecostes (Dt 5, 6-21; II Cor 4,5-12; Mc 2, 23-28):
Sem dúvidas que muitos religiosos no decorrer da História valorizaram mais as coisas que as pessoas, considerando-se "coisas", principalmente, como doutrinas. Sendo assim, o que vemos na História é uma batalha para que se saiba o "lado certo" e o "lado errado" de certas posições. E no afã de se impor um ponto de vista como único válido e verdadeiro, houve (e há) o uso da violência, seja verbal, psicológica ou mesmo física, chegando em alguns casos até mesmo à guerra! O velho e mau fundamentalismo.
Católicos x Protestantes, arminianos x calvinistas, pedobatistas x antipedobatistas, os conflitos se estendem e recebem o nome de "Legião". Enquanto isso, pessoas vão sendo deixadas de lado, pessoas vão sendo esquecidas e o pior, as doutrinas acabam se tornando mais importantes do que as pessoas. Isso é horrível para um testemunho cristão saudável.
A primeira leitura nos adverte quanto à necessidade de se amar e respeitar as pessoas. O Decálogo tem quatro mandamentos relativos ao amor a Deus ( não adorar outros deuses, não fazer ídolos, não tomar o nome de Deus em vão e guardar o dia de descanso). No entanto, os demais mandamentos mostram como deve ser o respeito e o amor ao próximo, deixando claro o quanto as pessoas são importantes.
A segunda leitura adverte que não podemos pregar a nós mesmos - nossos conceitos pessoais, nossos valores individuais - mas a Cristo, Nosso Senhor, em quem depositamos nossa fé e confiança. Dessa forma, colocamos as nossas vidas a disposição das pessoas - não das doutrinas - por amor a Cristo.
E o Evangelho fecha nossa reflexão, mostrando que os fariseus estavam preocupados mais com a Lei (doutrinas) do que com as pessoas, ao acusarem Jesus de ser um profanador do sábado. Tomando o mandamento ao pé da letra, esqueceram que o mandamento foi feito por causa das pessoas - a fim de que pudessem descansar da lida diária. Na verdade, o mandamento manda trabalhar seis dias para aí sim descansar-se um. Cuido da lida diária, da vida, vivo intensamente para mim, mas dedico um dia à adoração e descanso físico.
Porém, os fariseus estavam mais preocupados com a letra que mata. Em nome disso, é que muitas pessoas se afastaram do Evangelho e abandonaram as fileiras cristãs, pois muitos cristão (pseudocristãos) amaram mais a letra que mata do que o Espírito que vivifica. Porque o outro pensa diferente de mim, eu o afasto, isolo.
Vivemos num mundo onde as opções ao Evangelho são imensas. Gurus de todas as praias estão em busca de pessoas que sofrem com ansiedade, medo, depressão e outros males, e as persuadem a dar dinheiro, tempo e, por vezes, até a própria liberdade. Outros são aprisionados a vícios hediondos, que vão da internet até as drogas pesadas. Outros ainda se afundam no ativismo, no trabalho e fazem do dinheiro o seu deus.
É tempo de anunciar um mundo novo, uma perspectiva nova, uma nova visão, onde o SER é mais importante que o PARECER (e como as pessoas hoje gostam de cultivar as aparências!); onde o SER é mais importante que o TER (e a ostentação por vezes é o foco das redes sociais!). Vivemos em uma sociedade cheia de gente vazia.
Por isso é imperativo que tomemos consciência de que pessoas são mais importante do que coisas. Não podemos nos furtar à nossa tarefa de apresentar Jesus Cristo às pessoas, mas não um Cristo-doutrina. Devemos apresentá-lo como Cristo-companheiro de Jornada, que sofre com nossas dores e ri com nossa alegria. Um Cristo menos doutrinador e mais amigo, um Cristo que conosco constrói pontes, e não muros.
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